quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

E foi com este texto que concorri

A Editorial Presença lançou um concurso.
A cada um calhou a vez de dizer como aprendeu a ler, como ganhou o hábito. Qual foi o tal livro, ou a situação que criou o bichinho.

E eu respondi:

Foi naquele quarto escuro, e algo empoeirado, em casa da minha avó. Naquele quarto, sem janelas, numa casa portuguesa concerteza, onde vivia a pobreza a meias com a a felicidade a dois e 4 gaiatos, e onde havia poucos sítios para por uma cama tinha dormido o meu tio e uma das irmãs mais velhas. Ela estudou para professora, trabalho dignificador então, e uma das poucas coisas que as mulheres podiam fazer. A ele calhou-lhe África e o pouco de bom que a Africa lhe deixou: Uma esposa e remessas de livros de aventuras para as irmãs mais novas que cá ficaram. Sandokan, As viagens de Marco Polo, e muitos outros que a censura fazia por tardar a chegada às bancas. Cresci a passear-me pelas paredes brancas, corredores e recantos estranhos de uma casa construida artesanalmente, pela sala onde uma singela estante recordava que ali havia livros e aventuras por descobrir. Objetos aleatórios, baús, teias de aranha, páginas com ilustrações a preto e branco... lia ainda sem saber que lia. Imaginava e inventava com o que via, sem saber as letras.Tive pressa em aprender as letras e descodificar, em mergulhos naquele quarto escuro, para onde me transportavam aquelas máquinas do tempo. Os livros, como janelas.

Imagem de:
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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A corda que vibra desde o teto até ao chão


Tenho uma corda dentro de mim, presa no teto,
Que se estende até ao chão.
Cala-a a cabeça
Toca-a o coração
Ora bate no chão em nervoso inquieto
Às vezes escapa-se pelos cabelos,
E em miudinho pelas pernas abaixo.

Vibra presa.
Solta e cantante.
A minha corda,
Corda de insegura amante...

Quando os dedos saltam inquietos pelas teclas,

Quando as mãos querem escrever mais do que a opinião diz
Quando o ouvido não se quer converter na escola que dita os meus dedos
A minha corda interior está vibrante.

Nestes dias devia dançar.
Dançar apenas, com asas abertas ao sol, como as bailarinas das histórias.
Cantar apenas memórias.
Mas só consigo ficar inquieta.

A minha corda, que vibra de baixos no chão que piso,
Que vibra de agudos harmónicos no amor por ti.
De dia inquieta ... de noite em mudo.

Na noite em que me apercebi...
Quando os nossos olhos se encontraram
E as nossas cordas vibraram em sintonia
Nesse dia
Desde esse dia
Que esta corda vibra por dentro
Na tónica perfeita de ti.

Corda interior

sábado, 9 de novembro de 2013

Coração meio mordido

Um coração meio mordido é um coração vivido.
 Lambido.
Sofrido.

Um coração meio mordido é obra do demo.
Vá de retro Satanás! Que tem fome do Amor!
Se quer morder, morda a mãe que lho dá...!
Dá-lho todo sem pedir de volta!

Um coração meio mordido
É comido a meio.
É orgasmo interrompido,
Promessa desfeita (revolta!)
A caminho do paraíso...

Um coração meio mordido
É coiso dado, meio mordiscado,
Que dá vontade de ir mordendo,
Aguçando o dente ao centro.
Devagarinho...
É pedaço de mau caminho
Promessa dolente...
Sem saber se "dá" ou não dá?...

*para T.P.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

terça-feira, 23 de julho de 2013

Foi-se, a minha loucura.

Foi-se. A magia das coisas.
A magia dos tempos.
A magia de ti.
É isso que me enraivece. Quando a magia se vai.
Preciso de magia e de fantasia quando a realidade cai.
Se ela cai! Cai que nem granizo em cima de um guarda chuva.
A magia é o pingo da chuva brilhando ao sol.
"Carolina... os seus olhos tristes, guardam tanta dor..." (caetano veloso)
A magia faz-me andar mais leve na gravidade dos tempos.
E o teu encanto, perdeu-se como se perde a face negra da lua.
Por falar em lua, eu sou como ela. Preciso de sol para brilhar, e gente para iluminar.
Perdi-me de ti já. Ilumino-me noutro sol. Pressinto um salto para outro planeta...
E a fantasia... foi na leva do rio, na enchente do trabalho em cima da secretária.
Melhor assim... para a vida, quer dizer. Assim como estava, não se conseguia viver. Mas vivi intensamente... a fantasia. Que mais do que isso, não me deix(ei)aste ter. Só pude mesmo entrever...
Espreitar o buraco da fechadura. Que maldade! Poer apenas e só ficar-me pelo voyeurismo das minhas próprias imagens fabricadas!
Sempre posso amar programadamente, como manda a balança das emoções.
Essas putas loucas!
Sempre no fio da navalha
Da navalha que corta
Que corta os dias
e bate com  porta.
Essas putas loucas, que o mundo pare bem paridas,
No absurdo da dureza das rotinas.
"São loucas! São loucas..." (Amália Rodrigues, Barco Negro)




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sexualidades

Apanhas-te-me desprevenida.
Entraste em mim sem eu ver e, comigo nua, agarraste-me. O abraço. protetor. calor.
Entraste na minha sexualidade crua e afagaste-a, em sonhos.
Desde então fizeste um pop-up em mim, viral, sem direito a anti-virus
Primeiro a destempo. A surpresa!
Depois em sonhos. Molhados.
Depois, simplesmente não saíste da minha cabeça!
"Talvez se lhe der atenção, vir o que quer, se vá embora!" pensei...
Vierei-me e enfrentei-te. Com toda a coragem, todas as minhas fantasias e despudores, no olho da minha mente. Lá, tudo vale.
Todo o amor e afago... flores desabrochavam das nossas bocas juntas.
O abraço era doce e longo, desmedido, profundo... Uma união estranha nos peitos abertos.
Olhava-te sempre... nos olhos.
Nós, a sós, mas connosco, toda a gente.

Entraste em mim sem avisar. Mas tu não és real.
E então, o real e o imaginário.
O leal... e o calvário.
Um pé no chão... o outro, não passará da imaginação.
Que poderes ela tem!
Um orgasmo! No tempo real do pensamento...

Aprendi a prender-te, passarinho destrambelhado!
Só voas quando eu deixo.
Não! Não vás longe! Se voas alto podes cair ou perder-te nas nuvens, e também não quero despedir-me de ti.
És tão bom.
Não há especiaria como a tua... a especiaria do proibido, no segredo clandestino dos meus impossíveis. Só eu e tu... mesmo sem ti. Sabe bem viver-te em mim, mesmo sem eu viver em ti. São tudo fantasias...

Amo-te? Nem isso sei bem. É segredo.
Amo-me.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sem palavras

Hoje não me consigo exprimir. Tenho as palavras preguiçosas.
Estão debaixo da língua , á espera que as acorde...
As minhas ideias têm cara mas não têm nomes hoje.
Talvez seja apenas uma mudez irreprimível.
Uma vontade de silêncio...
Uma ordem para cessar, na necessidade de descansar.